quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

Na plateia do Trem Azul

Não é porque Elis Regina morreu, mas, sem sombra de dúvida, Trem Azul foi um dos melhores shows nacionais que já vi ao longo dos meus 58 anos. Um show impecável apesar de poucas pessoas na platéia do Gigantinho.


Recordo que, como era estudante, comprei o ingresso mais barato, nas arquibancadas, afinal, adorava e adoro Elis Regina. Vida de estudante sabe como é, dinheiro sempre contado.


Como o Gigantinho é grande, pensei que não ia ver o show direito. Mas, me enganei. Cheguei cedo, três horas de antecedência. O show era às 21h. Escolhi o melhor lugar das arquibancadas, onde poderia ver melhor minha diva.


Para minha surpresa, o Gigantinho não lotou. Pouquíssimas pessoas foram ver e prestigiar Elis Regina. Acredito que não havia mais do que cinco mil pessoas, sendo que o espaço deve ser para umas 12 mil pessoas.


O show começou quase no horário com Elis mostrando para que veio. Com “Aprendendo a jogar” ela levantou a plateia já no início do show e a fez o público cantar e dançar junto. Foi divino. O mesmo aconteceu com “Alô, alô Marciano” e “O medo de amar é o medo de ser livre”.


Não recordo se foi nesta hora ou depois de “Trem Azul” que Elis, muito simpática, parou o show e convidou todos para se aproximarem, chegarem mais perto, virem para pista, pois havia muito lugar vago ali na frente. Uma emoção tomou conta de mim, afinal, ia ficar pertinho de Elis. Com a medida, Elis agradou a todos e o show ficou mais aconchegante, intimista.


E, foi bem nesta parte que Elis encantou e empolgou ao cantar “Se eu quiser falar com Deus”, “Flora, “Valsa de Eurídice”, “Canção da América” e “Me deixas louca”, estas duas últimas de arrepiar. Só de lembrar, os pelos dos meus braços se ouriçam.


Talvez, “Me deixas louca”, “Canção da América” e “Se eu quiser falar com Deus”, tenham sido os momentos mais marcantes junto com “Maria, Maria”, onde Elis pôs a plateia abaixo, ao delírio, êxtase. Sua dancinha, performa-se no palco foi magistral. A partir destes momentos que entendi o significado de um dos seus muitos apelidos: “heliscóptero” e “pimentinha”.


Dando sequencia, Elis contagiou com os sambas “Sai dessa”, “Aqui é o país do futebol”, seguido por um pot-pourri fantástico, onde inovou e misturou músicas super conhecidas de outras interpretes como “Amante a moda antiga”, Começar de novo”, Menino do Rio” e “Lança perfume”, com temas de aberturas de programas da Rede Globo, como o da novela “Baila Comigo”, Fantástico”, Os Trapalhões”, entre outros. Foi perfeito, sublime!


O que me chamou a atenção era o improviso de Elis Regina. Os músicos deviam passar trabalho com ela, principalmente o baterista. Sua voz alcançava altos e baixos em segundos. Os vocalizes eram fantásticos, perfeitos, principalmente em “Aprendendo a jogar”, “Trem azul”, “Caxangá” e “o que foi feito de Vera”. Vale ressaltar a afinação. Não é necessário nem comentar!


Resumindo: o show foi perfeito, irreal, excepcional. Não me arrependo de ter contado os trocos e ficado um mês sem ir a festas para poder assistir ao show. Pena na época, anos 80, não ter máquina digital ou celular para ter registrado este momento único, ímpar, mas, que esta bem guardados em minha memória. - JK




Nenhum comentário:

Postar um comentário