terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Tempo, coração e fast-food


O mundo anda corrido, agitado demais. Somos dependentes do relógio para tudo. Temos hora para acordar, tomar café, almoçar, lanchar, sair do trabalho, levar e buscar os filhos na escola, jantar, dormir e até hora para o sexo.
Nosso lazer também tem hora marcada. Temos hora para ir ao cinema, teatro, viajar e hora para visitar amigos e, até mesmo para saborear aquele cafezinho com eles. Quando vamos ao dentista ou ao médico, a coisa não é diferente , hora marcada.
Nossas vontades, conquistas e quereres também também tem hora para acontecer: ontem! Somos imediatistas, não sabemos esperar a hora certa. Já diz o ditado que esperar é para os acomodados, que devemos correr atrás dos nossos sonhos, amores e fazer acontecer. Concordo parcialmente, pois tudo na vida tem um tempo de maturação, principalmente, os amores.
No desespero de não ficarmos sozinhos, beijamos e ficamos com qualquer um que nos dê atenção, um carinho, uma palavra afável, um sorriso perfeito. Basta ter uma embalagem bonita e dez minutos de conversa, seguida de alguns drinques e já estamos na cama, soltos e devassos na busca do prazer. Não que isso seja ruim - pelo contrário, sexo é ótimo -, mas tudo acontece rápido demais.
Não existe mais o prazer da conquista, o ritual da sedução. Os bons costumes foram esquecidos em algum lugar, atropelados pela pressa do cotidiano. Flores, cinema, jantar ou mesmo abrir a porta do carro, escrever um bilhete dizendo eu te amo num pedaço de papel tornam-se foram de moda, ridículos e, até ousaria dizer diria, cafona.
Hoje se diz eu te amo com muita facilidade. A mesma facilidade e rapidez que você vai a um fast-food e pede algo para comer. Aliás, estamos na era dos amores fast-food, dos amores esfomeados. Começam tão rápidos quanto terminam. No primeiro dia estamos jurando amor eterno, planejando morar junto, ter filhos e, na semana seguinte, amaldiçoando, querendo mais é que ele exploda. Só que esquecemos que nosso coração é quem sofre, morre afogado em nossas próprias lágrimas.
Antigamente, apresentava-se a família somente quando o namoro estava sério. Hoje os pais mal tem tempo de aprender o nome de um e a fila já andou, é outro nome! Assim é nas redes sociais. Na primeira semana o status é: em um relacionamento sério, na outra, sentindo-se decepcionada.

Agimos por afobamento, desprovidos de emoção onde as razões do coração são esquecidas, perdidas no tempo não administrado corretamente. Omitimos que o amor é único, que o verdadeiro amor não é sexo, nem paixão, nem amizade, compaixão ou desejo. Amor não é brinquedo, nem objeto de tortura, muito menos perecível com prazo de validade para se usar e descartar. E, não adianta negar: todos nós queremos um amor e um tempo para nós mesmos. - JK