Hoje acordei saudosista, com saudades tudo: do café com manteiga e pão
ao amanhecer, de pedir a benção aos padrinhos e do sinal da cruz em frente às
igrejas. Dos namorados dando beijinhos no portão, de ver alguém sorrido quando
lava a louça com a bucha vegetal enquanto escuta música verdadeira no rádio de
pilhas.
Ando com saudades de ver as pessoas sentindo respeito pela polícia, das
compras feitas e anotadas no velho armazém da esquina, de cantar o hino
Nacional com a mão no peito e com lágrimas nos olhos. Saudades quando uma
cantada era um simples fiu-fiu e as mulheres correspondiam com um tímido
sorriso na face. De segurar à mão da namorada no escurinho do cinema, de comer
jujubas e mariolas.
Saudades quando o presidente da Nação era respeitado por todos e que
cadeia era lugar, somente, de ladrões. Saudades do macarrão feito em casa e dos
almoços em família aos domingos. Saudades dos vegetais sem agrotóxicos e das
carnes sem hormônios. Saudades das festinhas nas garagens regadas a guaraná,
brigadeiro e pipoca.
Saudades dos finais de novela felizes, onde o bandido sempre era punido.
De quando se dava bom dia ao porteiro do prédio, a diarista e aos vizinhos. Saudades
da educação nas escolas e do respeito com os professores. Saudade maluca dos
amigos que já partiram, de nossos pais e de algumas ex-namoradas.
Saudades das pipas colorindo os céus e das crianças brincando livres e
seguras nas ruas. Saudades das chuvas sem acidez e quando a aridez era menor. Saudades
do tempo em que falávamos de sexo e ficávamos ruborizados.
Hoje tudo é tão banal que até eu banalizei, mudei! Acompanhei o
progresso e de vez em quando, sinto um enorme vazio, uma saudade dos bons e velhos
tempos, do meu antigo eu. De quando eu era um sonhador, sentimental, acreditava
em dias melhores, acreditava em nossos governantes e no amor verdadeiro.
Saudades – 08.09.19 - JK
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