quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

O cotidiano de Maria


 Maria era uma boa moça. Jovem, bonita e elegante. Seus lindos cabelos loiros e compridos emolduravam seu sorriso cobrindo sua alma com candura. Maria só tinha um defeito: ser casado. Mas, por onde passava, os homens viravam a cabeça e faziam fiu-fiu. Maria nem ligava, continua a caminhar com seu requebrado dengoso pra lá e pra cá.

 De manhã cedo, Maria já estava sorridente de pé. Preparava o café das crianças e do marido com o pouco que a vida oferecia. Embora não fosse nenhum café de hotel, não faltavam frutas, pão e o tradicional café com leite. Beijo no marido, crianças na escola, lá vai Maria descendo o morro para sua vida de diarista. Dois ônibus, meio quilômetro a pé, lá vai Maria sorridente.

 Casa pra arrumar, filhos que não são dela para cuidar, assim passam as horas. A patroa sempre esnobe, alfineta Maria. Sua beleza ofusca a patroa sem contar o ciúme do marido que, sempre que pode, estica o olho para os quadris de Maria. Mas, Maria nem liga, continua suas tarefas cantando um velho e bom samba de Noel Rosa.

 Tarefas cumpridas, lá vai Maria para casa. Na volta, para economizar o pouco que ganha, Maria volta de trem e caminha mais dois quilômetros. Em casa, tudo por fazer: cama, comida para as crianças, roupas para lavar e preparar a marmita para o marido. Assim é o cotidiano de Maria. Sua vida é cuidar do lar, dos filhos, do marido. Maria não reclama, faz com carinho, amor e dedicação.

 Quando a noite chega, Maria prepara o banho e o jantar do marido enquanto assisti sem piscar suas novelas. Crianças na cama, hora de se recolher. Maria, sedenta por um carinho do marido, deita na cama e o cobre de beijos. Mas, de tão casado que ele está, esquece do beijo que a alimente, vira para o lado e dorme. Maria fica a rolar na cama, ardente de paixão e desejo pensando que amanhã é um novo dia e o cotidiano recomeça novamente.

 Sempre que pode, Maria faz amor sozinha. Ela espera um dia fazer amor com seu marido como nos velhos tempos da adolescência, quando ainda nem eram casados. Ser rainha de bateria é o sonho maior de Maria. No carnaval, com muito samba no pé, samba em frente à televisão enquanto assisti aos desfiles da escolas do primeiro grupo. Apesar da simplicidade de sua vida, Maria é feliz e sonha com a felicidade de seus filhos, de seu marido.

Um comentário:

  1. Esta é uma vida.
    E tanta gente é assim.
    E muitas vezes achamos que somos melhores que os outros em que.
    Somos iguais e só muda o endereço.
    Lindo texto,parabéns.
    Abraço
    Amancio

    ResponderExcluir