sábado, 28 de maio de 2016

Pluft, meu fantasma camarada



Um fato marcou minha vida na época da faculdade. Aluguei um apartamento de um quarto na Rua 24 de Maio, no Centro de Porto Alegre. Morava sozinho ou pensava que morava, pois fatos misteriosos acontecem na residência.

Um deles, sem sombra de dúvida, foi ter esquecido a chaleira com água quando fui trabalhar, às 9h. Ao chegar da faculdade, por volta das 23h45, ao entrar no apartamento, uma surpresa. Um bilhete escrito por um funcionário do Corpo de Bombeiros dizendo que eu esqueci a chaleira ligada e tiveram que arrombar a porta, mas, que não precisava me preocupar, pois a porta tinha sido consertada e a cozinha estava limpa e organizada. Para minha surpresa, estava mesmo.

No dia seguinte, fui agradecer os funcionários do Corpo de Bombeiros. Na oportunidade, levei um merecido puxão de orelha. Já a chaleira, ficou uma obra de arte abstrata, toda retorcida.

Meses depois, numa noite chuvosa de sábado, nada pra fazer, a não ser reunir amigos para contar causos, beber e jogar. Certa hora da noite, já embalados e mamados, resolvemos brincar o jogo do copo, aquele que você tenta se comunicar com os mortos. Tudo normal até chegar a minha vez. Ao tocar suavemente no copo e perguntar se havia alguém na sala, o copo saiu voando se estraçalhando na parede. Ficamos mudos, gelados. A brincadeira e a noitada terminou ali mesmo. O susto foi tanto que a bebedeira também passou.

No dia seguinte, ao acordar, resolvi tirar um sarro de mim mesmo e disse: “pluft, liga a luz”. Para meu espanto, a luz do quarto ligou. Fiquei branco, assustado, mas, não satisfeito, tornei a disser: “pluft, apaga a luz”. E a luz apagou. Confesso que quase me borrei na cueca. Passado o susto, resolvi não brincar mais e fiquei alguns dias sem brincar de aceder e apagar as luzes.

Uma semana depois, também no sábado, ao receber a visita de uma amiga, contei o que tinha acontecido. Ela riu e disse que era reflexo da bebedeira e outras “cositas” mais. Vale lembrar que ela participou do jogo do copo.

Não satisfeito com o que ela falou, pedi ao pluft que a luz se apagasse. Para nossa surpresa, a luz apagou. Pedi a que a luz ligasse de novo, e a luz ligou. Recordo que fiquei neste liga e desliga uns 10 minutos, provando não se tratar de coincidência. Assustados com o fato inexplicável seguimos ao nosso destino, o bar Ocidente. Não dormi em casa.

No dia seguinte, contamos o fato a outros amigos, mas ninguém acreditou em nós alegando que estávamos bêbados e chapados. Para provar, os levamos até meu apartamento. E, a luz ligou e desligou cada vez que eu solicitava.

O engraçado é que só eu conseguia tal proeza. E, assim, o Pluft tornou-se meu companheiro de apartamento, fazendo parte do meu cotidiano e de meus amigos. O Pluft tornou-se um amigo íntimo e confidente, aquele amigo imaginário de infância.

Um dia, durante a visita de minha mãe, uma vizinha veio pedir uma xícara de açúcar dizendo estar fazendo um bolo. Convidamos ela para entrar, mas ela se recusou. Não satisfeita, minha mãe a questionou. Ela disse que no apartamento, anos atrás, uma criança havia sido morta pela mãe. Seu corpo ficou por meses embaixo da pia.

Ela contou que os vizinhos desconfiaram da morte da criança pela ausência de choro e pelo cheiro forte que exalava do apartamento. Na oportunidade, os bombeiros foram chamados e arrombaram a porta, encontrando o corpo da criança de mais ou menos seis meses. A mãe da criança foi presa, já o pai não foi achado.

Segundo os vizinhos, ele não queria o filho, pois a criança chorava muito, não deixando o pai descansar quando chegava cansado do trabalho. Resultado: acabou abandonando a mulher que, revoltada, acabou matando e esquartejando a criança.

Não acreditando nesta horripilante história contada pela vizinha fui pesquisar na Zero Hora e Correio do povo. Para minha surpresa, era tudo verdade.

Minha mãe, que estava passando uns dis na capital comigo, vendo que eu estava assustado com os fatos, disse que não era para me preocupar, pois o Pluft nada mais era do que um anjo, um espírito de luz que estava ali para cuidar e me proteger, bem como a casa.

No dia seguinte, ela foi até a Igreja Matriz pedir a um padre que viesse benzer e rezar no apartamento. Depois disso, nunca mais as luzes se acederam ou apagaram. Segundo o padre, pluft finalmente encontrou o merecido descanso.


AH1 Vale a pena relatar que dias após o padre ter ido lá em casa, encontrei a vizinha na rua e acabei contando que tinha pesquisado e que realmente era verdade tudo o que ela falara. Na oportunidade, descobri que Fernanda, a vizinha, era um travesti. Trabalhava em um salão há uma quadra de casa. Acabei ficando seu cliente. Anos mais tarde, já morando aqui em Caxias do Sul, soube que ela foi assassinada ao sair de uma boate pelo namorado.

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